E este é, sem dúvida, o melhor caminho para tentar entender - ou repensar - as causas e as consequências reais da crise que envolve o prefeito de Ilhéus e os servidores públicos municipais.
Afinal, Jabes está intransigente ou usa da esperteza para repavimentar o seu caminho? Que Jabes é esse que, eleito por sua experiência política, se enrrosca no primeiro embate público? Jabes piorou? Ficou mais intransigente ou mais inteligente? É frio? Ou calculista?
Para muitos, entender melhor estes questionamentos será preciso voltar aos primeiros meses deste novo (ou já velho) governo.
E algumas perguntas precisam, necessariamente, ser feitas.
Vamos a elas, tomando como critério de análise, setores como saúde e educação:
Antes da crise, antes da greve dos servidores, os postos de saúde tinham médicos? As farmácias tinham remédios? Tudo funcionava satisfatoriamente?
E a educação? Todas as escolas funcionavam? Com merenda escolar e professores?
A resposta é óbvia: não!
Portanto, para estas pessoas, inclusive, algumas delas, experientes líderes sindicais, a greve, nesta fase, oferece ao prefeito um ingrediente fundamental para a sua sobrevivência política e administrativa.
Agora, com a Prefeitura fechada, os problemas que, de fato, até então apenas lhe pertenciam, acabaram divididos com os servidores que estão fora dos seus departamentos e em busca dos seus reais direitos.
As salas vazias, terminam justificando parte do caos.
Ou alguém tem dúvida de que, hoje, para a população menos esclarecida, os postos não funcionam por que enfermeiros e médicos estão em greve? E a educação? Ora, os professores também estão parados.
Um levantamento feito por uma servidora da saúde e dado de presente ao Sindicato dos Servidores Públicos Municipais (Sinsepi), revela que, desde que o atual prefeito assumiu o cargo, o setor não conseguiu reagir à crise instalada nos últimos anos, inclusive em anos anteriormente administrados pelo próprio Jabes.
A questão é que, de janeiro a julho deste novo mandato, período em que a saúde e a educação "funcionaram" com os servidores na ativa, nada, de fato, aconteceu.
O Posto Sarah Kubitschek, que deveria prestar exames ginecológicos, esteve o tempo inteiro sem material de coleta e sem, sequer, um aparelho para aferir pressão arterial. Lá, não há um computador para marcação das consultas e a funcionária, se tiver boa vontade, tem que se deslocar até a Central de Regulação para tentar ajudar o cidadão-paciente (paciente ao pé da letra).
Na Policlínica da Conquista, duas recepcionistas revezam nos dois turnos de funcionamento. Mais que a população de Ilhéus elas ainda atendem pacientes pactuados de outros municípios. A Policlínica já coleciona mais de 100 mil prontuários que não páram de se multiplicar em prateleiras desorganizadas, já que o sistema de consultas e arquivamento foi suspenso, por falta de pagamento. E o que dizer do Centro de Atendimento de Diabéticos, Hipertensos e Idosos que não tem um geriatra à disposição do público-alvo? E as condições de trabalho do servidor? Quem sabia, por exemplo, que o galpão improvisado onde funciona a Central de Regulação é cheio a mofo e funciona nas mais perfeitas condições insalubres para abrigar servidores e atender ao grande público?
Não é diferente na educação. Um levantamento dos primeiros cem dias do ano letivo, mostra que muitas escolas, principalmente na zona rural de Ilhéus, não conseguiram cumprir sequer 40 por cento das aulas previstas. Falta professor em muitas. Falta merenda escolar em todas. Sobra indignação de pais e espalha-se desesperança de quem enxerga um letivo praticamente perdido.
É por conta desta situação que alguns lideranças sindicais começaram, nos últimos dias, a enxergar na ruptura do diálogo do prefeito, mais que sinais de irritação. Mas, sim, uma estratégia política minuciosamente calculada.
É que, dividir, agora, a responsabilidade do caos, reduz a culpa do único culpado.
O fato é que enquanto os trabalhadores permanecerem em greve, a culpa será de todos.
Os serviços não estarão sendo prestados e o dinheiro enviado pelos governos federal e estadual, nutrirá os cofres de uma prefeitura parada no tempo mas cheia de projretos para sonhar.
Quem sabe o grande responsável pela chave do cofre esteja agora mais preocupado em juntar recursos para, em um breve espaço de tempo, sair do fundo do poço e tentar recomeçar do zero.
Voltando a Johann Goethe, é dele também uma outra célebre frase: "A mais nobre alegria dos homens que pensam é haverem explorado o concebível e reverenciarem em paz o incognoscível".
Tudo isso, de fato, faz sentido, neste momento, em Ilhéus.
Ah, se faz!
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